O Prof.J.Araújo deu uma entrevista ao Jornal "O Jogo"no qual como vem sendo hábito aborda termas importantes relativos ao momento actual da modalidade.
- O que achou da decisão do FC
Porto em suspender a atividade da equipa sénior?
Discordei, naturalmente, mas, em simultâneo, confirmei que se
sucedem no nosso país, a todos os níveis, decisões em que não são tidas em
conta importantes questões sociais e culturais que, tal como neste caso,
envolvem ao longo de anos a vida de centenas de pessoas.
Para além das verdadeiras razões que justificaram esta decisão,
todos aqueles que se dedicaram ao basquetebol do F. C. Porto ao longo de muitos
anos, mereciam algo mais que deparar com este doloroso facto consumado. E não
posso deixar de considerar estranha a forma passiva como quem dirigia na
atualidade a modalidade no F. C. Porto, pelo menos aparentemente, ter permitido
sem qualquer reacção que isto acontecesse.
- De que forma sentiu esta
decisão, tendo em conta que orientou o FC Porto durante 17 anos?
Senti que acabam de ser literalmente apagados da minha vida
profissional e pessoal, 17 anos extremamente ricos em profundas emoções e
aprendizagens.
- Esta decisão surpreendeu-o?
Entende os motivos do clube?
É impossível entender aquilo que acaba de acontecer, quando,
ninguém se esforçou por me tentar envolver numa hipotética solução ou me deu
alguma explicação sobre o assunto.
- Agora o que espera desta Liga
Portuguesa, que se jogará com 11 equipas e orfã de "um grande"?
Sinceramente, não sei a que Liga Portuguesa se refere. Se a
questão que me coloca diz respeito à Liga Profissional de Basquetebol por que
tanto lutei e ajudei a criar, todos os adeptos da modalidade sabem que já há
uns anos deixou de existir uma verdadeira Liga Profissional em Portugal,
passando a vigorar algo híbrido, que não só não honra o amadorismo mas, pior
ainda, desprestigia o profissionalismo.
- O basquetebol português está
mesmo a caminhar para um período negro? Como dizia o jogador Zé Costa ontem,
isto pode ser o princípio do fim?
O José Costa, atleta e pessoa que sempre considerei e respeito
mútuo, cujo prestígio e independência ninguém se atreverá a contestar, está,
com essa declaração e como é próprio da sua grandeza humana, a pretender ser
gentil.
No que me respeita, não considero que o basquetebol português
vive hoje o princípio do fim, mas sim que apresenta os sinais comatosos
próprios de uma morte anunciada.
- Há mais equipas que possam
fechar portas?
Há anos que se sabe que para além de dois ou três clubes, todos
os restantes vão agravando cada vez mais a sua situação e revelando cada vez
maiores dificuldades de sobrevivência.
- O que deve ser feito?
Falar verdade, deixarmo-nos de alimentar ficções e,
principalmente, olhar para a modalidade como um todo.
É
fundamental que o basquetebol português tenha uma liderança capaz de mobilizar
a motivação das Associações, Clubes, Dirigentes, Treinadores, Jogadores,
Árbitros, Jornalistas e Adeptos, transformando a modalidade, num conjunto
coeso.
Impõe-se
terminar a tendência gradual do processo de tomada de decisões fundamentais
para a modalidade, decorrer quase exclusivamente centrado em alguns que
persistem em não aceitar qualquer tipo de opinião que contrarie a sua.
Precisam
ser trilhados outros caminhos, principalmente o de congregar tudo e todos ao
redor da cultura e dos valores que há muito existem no basquetebol português e
que parecem ter vindo a ser gradualmente esquecidos.
Todos
os agentes da modalidade requerem ser envolvidos e mobilizados ao redor de uma
Missão e de uma Visão que devem constituir fatores aglutinadores e não, como
quase sempre vai acontecendo, motivo de divisões e debates estéreis.
Cada
agente da modalidade e, nomeadamente, os Clubes, os Treinadores, os Jogadores e
os Árbitros tem de sentir-se parte integrante do todo e estar mobilizados para
contribuir na definição das metas e caminhos a apontar.
Enquanto
atual Presidente da Assembleia Geral da Federação Portuguesa de Basquetebol,
tal como prometi ao tomar posse, esta continuará a ser a minha luta, embora
reconheça que o facto de a minha função na modalidade não ser executiva,
constitui uma enorme limitação quanto a qualquer possibilidade de intervenção.