terça-feira, 24 de julho de 2012

Olhar a modalidade como um todo...

O Prof.J.Araújo deu uma entrevista ao Jornal "O Jogo"no qual  como vem sendo hábito aborda termas importantes relativos ao momento actual da modalidade.

- O que achou da decisão do FC Porto em suspender a atividade da equipa sénior?
 Discordei, naturalmente, mas, em simultâneo, confirmei que se sucedem no nosso país, a todos os níveis, decisões em que não são tidas em conta importantes questões sociais e culturais que, tal como neste caso, envolvem ao longo de anos a vida de centenas de pessoas.
Para além das verdadeiras razões que justificaram esta decisão, todos aqueles que se dedicaram ao basquetebol do F. C. Porto ao longo de muitos anos, mereciam algo mais que deparar com este doloroso facto consumado. E não posso deixar de considerar estranha a forma passiva como quem dirigia na atualidade a modalidade no F. C. Porto, pelo menos aparentemente, ter permitido sem qualquer reacção que isto acontecesse.

- De que forma sentiu esta decisão, tendo em conta que orientou o FC Porto durante 17 anos?
 Senti que acabam de ser literalmente apagados da minha vida profissional e pessoal, 17 anos extremamente ricos em profundas emoções e aprendizagens.

- Esta decisão surpreendeu-o? Entende os motivos do clube?
 É impossível entender aquilo que acaba de acontecer, quando, ninguém se esforçou por me tentar envolver numa hipotética solução ou me deu alguma explicação sobre o assunto.

- Agora o que espera desta Liga Portuguesa, que se jogará com 11 equipas e orfã de "um grande"?
 Sinceramente, não sei a que Liga Portuguesa se refere. Se a questão que me coloca diz respeito à Liga Profissional de Basquetebol por que tanto lutei e ajudei a criar, todos os adeptos da modalidade sabem que já há uns anos deixou de existir uma verdadeira Liga Profissional em Portugal, passando a vigorar algo híbrido, que não só não honra o amadorismo mas, pior ainda, desprestigia o profissionalismo.

- O basquetebol português está mesmo a caminhar para um período negro? Como dizia o jogador Zé Costa ontem, isto pode ser o princípio do fim?
 O José Costa, atleta e pessoa que sempre considerei e respeito mútuo, cujo prestígio e independência ninguém se atreverá a contestar, está, com essa declaração e como é próprio da sua grandeza humana, a pretender ser gentil.
No que me respeita, não considero que o basquetebol português vive hoje o princípio do fim, mas sim que apresenta os sinais comatosos próprios de uma morte anunciada.

- Há mais equipas que possam fechar portas?
 Há anos que se sabe que para além de dois ou três clubes, todos os restantes vão agravando cada vez mais a sua situação e revelando cada vez maiores dificuldades de sobrevivência.

- O que deve ser feito?
 Falar verdade, deixarmo-nos de alimentar ficções e, principalmente, olhar para a modalidade como um todo.
É fundamental que o basquetebol português tenha uma liderança capaz de mobilizar a motivação das Associações, Clubes, Dirigentes, Treinadores, Jogadores, Árbitros, Jornalistas e Adeptos, transformando a modalidade, num conjunto coeso.
Impõe-se terminar a tendência gradual do processo de tomada de decisões fundamentais para a modalidade, decorrer quase exclusivamente centrado em alguns que persistem em não aceitar qualquer tipo de opinião que contrarie a sua.
Precisam ser trilhados outros caminhos, principalmente o de congregar tudo e todos ao redor da cultura e dos valores que há muito existem no basquetebol português e que parecem ter vindo a ser gradualmente esquecidos.
Todos os agentes da modalidade requerem ser envolvidos e mobilizados ao redor de uma Missão e de uma Visão que devem constituir fatores aglutinadores e não, como quase sempre vai acontecendo, motivo de divisões e debates estéreis.
Cada agente da modalidade e, nomeadamente, os Clubes, os Treinadores, os Jogadores e os Árbitros tem de sentir-se parte integrante do todo e estar mobilizados para contribuir na definição das metas e caminhos a apontar.
Enquanto atual Presidente da Assembleia Geral da Federação Portuguesa de Basquetebol, tal como prometi ao tomar posse, esta continuará a ser a minha luta, embora reconheça que o facto de a minha função na modalidade não ser executiva, constitui uma enorme limitação quanto a qualquer possibilidade de intervenção.

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