quinta-feira, 31 de maio de 2007
O livro na Net....
Por razões várias que não vale a pena referir o livro que tanto trabalho e prazer me deu a escrever não foi publicado...
Assim já iniciei a publicação do mesmo no meu site (www.eteamz.com/sites/mariosilva).
I. PREFÁCIO
"A minha vida de treinador tem sido feita de desafios, a maioria dos
quais com grandes riscos e em situações bem complicadas de resolver.
Umas vezes tenho tido sucesso , outras nem por isso . A verdade
contudo é que nunca virei a cara à luta.
Escrever um livro da modalidade que amo é mais um desafio que
obviamente não rejeito.
O relato da minha última experiência no Seixal ,
expressa a luta de um treinador na procura de soluções na maior parte
das vezes sem as condições mínimas para as encontrar. Como
”mascarar” tanta dificuldade sabendo que ao treinador “apenas” se
pede vitórias e bons resultados , independentemente do que lhe é
oferecido. O meu livro é pois o relato de uma “guerra” em que as armas
ao meu dispor nunca foram iguais ás armas da concorrência. Aqui
procuro também apresentar algumas das soluções adoptadas pelas
restantes equipas! .
O indice dolivro é o seguinte:
I– PREFÁCIO
II– O MODELO DE JOGO
III- A TRANSIÇÃO
IV– O PLANO DA DEFESA
V– A ZONA MATCH UP
VI– A ZONA DE SYRACUSE
segunda-feira, 28 de maio de 2007
Os reis do 1x1
O recurso às trocas defensivas está muito em voga no basquetebol profissional e, naturalmente, o FC Porto e a Ovarense têm apelado a este recurso. O objectivo é claro: manter sob pressão o portador da bola.
A este nível de jogo, os jogadores sabem bem o que fazer e facilmente detectam a situação, até porque os treinadores preparam os ajustes necessários de forma a tirarem partido das vantagens momentâneas.
As respostas dos ataques visam a exploração dos “mismatchs” interior ou do perímetro, procurando que o jogador mais ofensivo (“hot hand”) tenha a bola para jogar 1x1. A opção de isolar o base no exterior tem sido a mais utilizada nos jogos da final.
No jogo 3, vencido justamente pelo FC Porto (68-64), Julian Blanks (fez 14 lançamentos para marcar 17 pontos e contribuir com 8 assistências) e dois dos atletas da Ovarense, Cordell Henry (14 lançamentos para 12 pontos) e Ben Reed (20 lançamentos para 20 pontos), foram os “reis” do 1x1. Encontraram sempre áreas livres para lançar triplos ou espaço para penetrarem frente a adversários bem mais altos, mas mais pesados e com pouca mobilidade.
É sabido que as grandes equipas apresentam como dominador comum uma boa defesa e a conquista da maioria dos ressaltos. A equipa de Ovar no jogo 4 (vitória por 66-73) é um bom exemplo:
- Só sofreu 66 pontos;
- Obrigou o oponente a lançar mal (42% duplos e 25% triplos);
- Ganhou a “guerra” dos ressaltos (41-31).
O recurso aos “traps” e ao “flash” na defesa dos bloqueios directos manteve sempre Julian Blanks controlado (“só” marcou 16 pontos e fez 1 assistência) e obrigou o trio de “gigantes” composto por John Whorton, Rodrigo Mascarenhas e Larry Jon Smith a lançar triplos (8 tentados para apenas 1 convertido).
Se juntarmos os contributos do pequeno Cordell Henry (21 pontos e 7 assistências), Greg Stempin (18 pontos e 6 ressaltos) e Rui Mota (30 minutos de grande aplicação), fica justificado o empate actual.
Planos de jogo
O FC Porto parte em vantagem na final do playoff, depois de ter empatado a eliminatória em Ovar.
Joga agora em casa, mas a história da prova mostra o que essa vantagem é meramente teórica, o que deixa os amantes da modalidade com grande expectativa e entusiasmo.
Um plano de defesa bem elaborado e melhor treinado, permitiu à Ovarense ganhar claramente o jogo 1 da final (83-46):
- Agressividade sobre o base portador da bola;
- Várias soluções para um mesmo problema o “Pick and roll” (“traps”, desviar para a linha, trocas);
- Trocas múltiplas vs. “Horns”, mantendo o base a marcar o poste que abre no perímetro;
- Utilização da defesa Press para atrasar os tempos de ataque contrários;
- Marcação de muitos pontos a partir da defesa.
Os números não mentem. A defesa vareira só permitiu 46 pontos. Nenhum adversário chegou aos 10 pontos com 12% nos triplos e 39 % nos duplos.
Cordell Henry (17 pontos e 4 assistências) e Gregory Stempin (13 pontos e 11 ressaltos) estiveram em particular destaque no ataque, dinamizando público e colegas.
Já o F.C.Porto nunca se encontrou:
- Falhou cestos fáceis, umas vezes por inépcia no acto de lançar, outras porque a agressividade da defesa local alterou trajectórias e obrigou a lançar em áreas menos favoráveis. Quem está só, a este nível de jogo (“pop out”), tem necessariamente de marcar.
- Larry Jon Smith (nenhum triplo marcado e 20% no total) teve grandes dificuldades na leitura da defesa, tomando muitas vezes decisões erradas. Isto é, lançava quando devia penetrar e penetrava quando devia lançar;
- As soluções encontradas pelos bases (Julian Blanks e TJ Sorrentine), no “ pick and roll”, não foram as mais adequadas. Muitas vezes, quem desfaz para o cesto não é a melhor opção, mas sim os atiradores dos cantos (Nuno Marçal e Paulo Cunha).
Contudo, no jogo 2, o FC Porto aprendeu com a lição anterior e tomou a iniciativa do jogo (79-87):
- Jogou no contra ataque com os “trailers” (John Whorton e Larry Jon Smith) a contribuírem com pontos;
- Defendeu também com agressividade;
- Jogou sem medo e com ambição. Não ficou à espera que as coisas acontecessem.
- As múltipla substituições permitiram encontrar um “cinco” mais adequado ao adversário;
- Julian Blanks (28 pontos e 4 assistências) ajustou e comandou melhor o ataque, melhorando a leitura do jogo da equipa nos bloqueios directos.
A importancia dos bases...
Um dos problemas centrais da eliminatória que coloca frente a frente Benfica e FC Porto (2-2), mais do que a estatura, é a mobilidade, criatividade e pontaria dos jogadores do perímetro.
É sabido que nesta fase da época, em que tudo se decide, não é fácil surpreender o adversário. Treinadores e jogadores conhecem-se bem e a recolha de informação (“scouting”) já realizada antecipa cenários e condiciona os planos de jogo.
Na tentativa de aumentar a capacidade ofensiva, ambos os conjuntos utilizaram simultaneamente, durante tempo significativo, dois primeiros bases nos “cincos”, o que possibilitou a alternância na função de comando da equipa (“flip-flop”).
TJ Sorrentine (Vermont) e Julian Blanks (LaSalle), do Porto, e Tyson Wheeler (Rhode Island) e Miguel Minhava, do Benfica, são os cérebros que procuram ler o jogo pela mesma cartilha dos treinadores Alberto Babo e Henrique Vieira.
Já o “coach” Dean Smith (North Carolina) dizia que não jogava contra os treinadores, mas sim contra os bases contrários.
A importância das duplas está claramente expressa nos dados estatísticos relativos ao playoff:
Minutos
Pontos
Assistências
TJ Sorrentine
23
8,7
3,6
Julian Blanks
21
9,9
4
Tyson Wheeler
31
13
4
Miguel Minhava
25
8,4
2,9
A dupla dos “dragões” é responsável por 29% dos pontos e por 47% das assistências, enquanto a das “águias” vale 23% dos pontos e 50% das assistências.
Os ressaltos podem também decidir quem vai à final.
A altura ajuda a conquistar a posse de bola. Brooks Sales (Villanova), com 2,10m, tem média de 8,3 ressaltos no total. Mas não basta ser alto.
É necessário ter vontade e ser agressivo na procura da bola onde quer que ela esteja. Rodrigo Mascarenhas, de 1,98m, é o rei das tabelas no playoff da Liga, com 11,8 ressaltos no total, fazendo lembrar o mítico Jarred Miller de tão boa memória para os portistas.
terça-feira, 8 de maio de 2007
Lusitânia ainda acredita
A Ovarense jogou mal no jogo inaugural das meias-finais, o que é natural no play off, e perdeu (83-93).
A reacção, dos mais fortes, não se fez contudo esperar (vitória concludente no segundo jogo por 87-58) e, agora, as equipas mudam-se para os Açores com uma igualdade.
O Lusitânia parecia ter a lição bem estudada. O surpreendente triunfo tem muito a ver com a mobilidade, criatividade e pontaria dos jogadores exteriores. Por outro lado, conseguiu também responder, sempre na mesma moeda, à tradicional agressividade defensiva dos “vareiros”.
Um jogo físico aumenta naturalmente as dificuldades para os juízes, já que os contactos são uma constante e nem sempre é fácil aplicar os princípios do “cilindro” e da “verticalidade”: Ao jogador com bola não deve ser dada maior protecção ou consideração que ao defesa respectivo.
Os 13 triplos convertidos (no jogo 1) encontram explicação não só na pontaria afinada dos “açorianos”, mas também na vontade dos defesas da casa em entrar em ajudas profundas. Só que, muitas vezes, ou recuperaram tarde ("close out”) ou esqueceram-se que quem ajuda precisa também, por sua vez, enquanto não recupera o adversário directo, de ser ajudado (“help the helper”), o que deixa os atacantes em boa posição para lançar (sem pressão defensiva).
O Lusitânia escolheu bem o trio de norte americanos :
Graham Brown, um jovem poste de 24 anos da Universidade de Michigan, Mike Williams, com experiência em França (Le Havre), e Willie Taylor, que já jogou em Itália. A estes, juntamos os portugueses candidatos a uma presença em Sevilha na selecção de Valentyn Melnychuk e Orlando Simões: João Figueiredo, que mostra grande disponibilidade para servir os companheiros (12 assistências no total) proporcionando-lhes cestos fáceis, e Jaime Silva (5 triplos com 63% na vitória).
Um banco humilde e aplicado cumpre as ordens de Manuel Povea e ajuda na brilhante época da equipa.
Resta agora saber se ainda têm força para resistir às lesões, aos problemas financeiros e à pressão competitiva imposta pela Ovarense na hora das grandes decisões.
terça-feira, 1 de maio de 2007
Os triângulos do F.C. Porto
O Futebol Clube do Porto Ferpinta chegou facilmente às meias finais da Liga UZO, ultrapassando o Casino Figueira Ginásio por concludentes 3-0.
A equipa de Alberto Babo defendeu de forma eficaz (66 pontos sofridos de média) e baseou o seu ataque de posição nas triangulações: “Dispositivo geométrico realizado com passes em que se procura fazer chegar a bola ao poste interior, por meio de um passe de apoio a um terceiro jogador estrategicamente colocado no exterior, quando não se consegue fazer chegar a bola directamente ao poste”.
Os movimentos ofensivos dos “dragões” não constituem novidade, são utilizados pela maioria das equipas que concorrem ao campeonato profissional e visam contrariar as ajudas e dificultar a tarefa dos defesas.
Os bases TJ Sorrentine e Julian Blanks comandaram bem o ataque e quase sempre conseguiram fazer chegar a bola ao experiente poste norte americano John Whorton. A primeira parte do conceito ofensivo Dentro/Fora foi suficiente para destabilizar a defesa contrária.
O recurso aos triângulos curtos (TJ Sorrentine / Rodrigo Mascarenhas / John Whorton) - mais seguros já que as distâncias entre os jogadores são menores - foi determinante no sucesso do FC Porto.
Sempre que as ajudas apareceram na área pintada, a opção pelos triângulos longos (TJ Sorrentine / Rodrigo Mascarenhas / Paulo Cunha) permitiu a inversão do lado da bola e, ao mesmo tempo, a descoberta, nos cantos, de Paulo Cunha (32 pontos e 5 triplos no derradeiro jogo) e Nuno Marçal (5 triplos) .
O que fazer para contrariar a ofensividade dos triângulos?
Dadas as características dos jogadores e atendendo a que no basquetebol actual não faz muito sentido defender sempre da mesma forma, o recurso ao desvio do base portador da bola para a linha final (“Fanel”), afastando-o do bloqueador e contando com a rotação exterior dos colegas na defesa do bloqueio directo lateral (“Side screen”) ou ajudar e recuperar (“Show and recoverd”), não entrando em ajuda com os defesa dos “cantos”, contra o movimento da moda “Horns”, parecem ser boas opções, até porque são as mais rotinadas.
Qualquer plano de jogo defensivo, para ser bem sucedido, tem de levar em conta a neutralização dos portugueses Paulo Cunha e Nuno Marçal, criando cenários que os condicionem, já que atravessam um bom momento de forma desportiva.
Contudo, se os norte-americanos Larry Jon Smith e Julian Blanks acordarem a tempo e passarem a jogar ao mesmo nível do início da época, o Porto pode voltar a sonhar com o título.
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