"Em Portugal é normal, diria mesmo rotineiro, falar-se de coisas que pouco ou nada têm a ver com os verdadeiros problemas, suas causas e forma de as resolver. É aquilo que se convencionou chamar na gíria desportiva de opinião de treinador de bancada. Isto é, formula-se facilmente um juízo pouco consistente e pouco fundamentado sobre determinados assuntos.
Vem isto a propósito da imposição que foi feita há dias pelo treinador da seleção nacional de basquetebol sénior, sobre o número de estrangeiros a jogar nas equipas portuguesas. Tenho Mário Palma como uma pessoa altamente conhecedora do basquetebol, contudo este é um problema menor do nosso basquete e, claramente, uma falsa questão. Não será, por certo, esta a razão do nosso basquetebol deixar de ser interessante para os jovens, deixar de ser atrativo para o público, deixar de ser visível para os patrocinadores e um exemplo a seguir para federações e treinadores de outras modalidades como o foi no passado.
Sempre fui um defensor da qualidade dos jogadores, e sempre entendi que as equipas apenas deveriam contratar estrangeiros de qualidade superior aos jogadores portugueses. Também sempre achei que devia ser definido um limite de estrangeiros e, daí, estar à vontade para me pronunciar sobre esta matéria.
Nem todos partilharam desta opinião. O SLB, por exemplo, no tempo do treinador Mário Palma, jogava com dois jogadores angolanos, dois jogadores naturalizados portugueses, dois estrangeiros e, depois, uma série de jogadores da seleção nacional, que por vezes começavam a partida no banco. Já no Estrelas da Avenida a quantidade de jogadores não Portugueses era enorme (2 USA e diversos jogadores europeus).
Contudo, não deixando de defender esta linha de pensamento, pela convivência sistemática com os clubes portugueses sou obrigado a perceber as suas dificuldades naconstituição dos plantéis, seja por constrangimentos de oferta (quantas vezes os principais emblemas não aglutinaram os melhores atletas?) ou financeiros, o que promove a necessidade de contratarem jogadores de origem não portuguesa. Pode-se então dizer igualmente que devido á concentração dos melhores jogadores Portugueses em determinados clubes esta é a única forma que os clubes têm de equilibrar em termos competitivos o campeonato, o que é fundamental para a competição. Veja o que aconteceu este ano com o Ginásio Figueirense desde o inicio do campeonato e com o Terceira Basket após a saída dos jogadoresmade in USA.
Assim, diria que o problema sobre o número de jogadores estrangeiros a atuar em Portugal é uma falsa questão.
Sobre o problema da seleção portuguesa, e fazendo uma análise à equipa que se deslocou ao EuroBasket/2011, esta era composta pelos seguintes jogadores: António Tavares, nascido a 1975 – 36 anos; José Costa, 1973 - 38 anos; Miguel Minhava, 1983 – 28 anos; Fernando Sousa, 1981, 30 anos; Cláudio Fonseca, 1989 – 22 anos; Filipe da Silva, 1979 – 32 anos; Carlos Andrade, 1978 – 33 anos; José Silva, 1989 – 22 anos; Elvis Évora, 1978 – 33 anos; Marco Gonçalves, 1984 – 27 anos; João Santos, 1979 – 32 anos. Ficaram de fora, porque não aceitaram, Nuno Marçal, 1975; 36 anos e Sergio Ramos, 1975, 36 anos. Dispensado foi o jovem Nuno Barroso, nascido em 1991, 21 anos. Dos jovens que faziam parte do plantel Cláudio Fonseca jogou 66 minutos e José Silva 33 minutos no torneio.
Pode afirmar-se, então, que a seleção nacional foi composta por jogadores de uma idade muito avançada e que os jovens que dela fizeram parte não constaram dos planos de jogos do treinador e que, portanto, não existiu qualquer renovação.
Já há muito que manifestei as seguintes opiniões:
Seleções: entre outras medidas, a criação de uma seleção B. Era mais do que evidente que o número de jogadores de qualidade em Portugal estava a diminuir, que a aposta era num grupo de jogadores e que não havia renovação. Estes jogadores têm uma enorme experiência acumulada de terem sido jogadores profissionais e que, portanto, treinaram e jogaram a um nível muito exigente. Sem haver uma equipa B, não era possível acautelar o futuro da seleção. A falta de visão ou falta de condições para colocar em prática soluções que colmatassem esta evidência conduziu a este estado de coisas.
Competições Internacionais: é sempre bonito ver as equipas portuguesas a competir nas competições internacionais. O que não gosto é ver as equipas portuguesas sem condições de disputar os resultados. Sejamos claros: sem jogadores estrangeiros de qualidade não é possível às atuais equipas lusas disputarem condignamente qualquer competição internacional. O problema do número de estrangeiros, melhor dizendo, alguma má vontade sobre estes, só é colocado em Portugal. Ovarense, Queluz, Benfica, CAB Madeira (não nos podemos esquecer que este clube faltou a dois pontos altos por não ter dinheiro para as deslocações e que tiveram necessidade de juntar diversos jogos por forma a evitar as deslocações) e mais algumas equipas sabem bem o quanto custou em termos financeiros estas competições, o que extraíram dela em termos competitivos e neste momento não temos jovens jogadores cuja participação nesta prova sejam uma mais valia. Já me custa ver as diferenças pontuais por que as equipas portuguesas do basquete feminino perdem aquando das suas participações, bem como as condições logísticas em que o fazem.
Campeonato da Proliga: aquando da sua criação era preciso definir qual o seu propósito no seio das competições nacionais. Se era uma competição de preparação para a liga e de defesa do jogador nacional então porquê ter estrangeiros? E se sim, porquê dois? Não deveria ser esta competição o espaço normal para o jogador português evoluir e ganhar experiência? Se sim, então não devia ter estrangeiros ou mais do que um estrangeiro por equipa. O problema é que ninguém quis assumir uma posição estratégica desta natureza porque a ambição era fazer frente à LCB. Foi um absurdo e não fazia sentido, mas foi assim que muitas pessoas viram a Proliga. Pior foi a sugestão de realizar jornadas cruzadas, que se revelaram de uma falta de cultura competitiva sem explicação. Jogar fora ou em casa não é a mesma coisa e sem haver um critério objetivo para este tipo de jornadas o resultado final de vitórias e derrotas no fim da época foi sempre fruto desta aberração competitiva.
Campeonato Sub-20: É um campeonato onde as equipas podem ter “estrangeiros”, aqueles jogadores com mais de 20 anos, mas que podem jogar. Será que ninguém percebeu que o escalão Sub-20 é de uma inutilidade enorme. Primeiro, porque é composto por jovens jogadores que frequentam o ensino universitário e como tal têm responsabilidades perante os pais pelo seu sucesso escolar. Muitos deles deslocados do seu agregado familiar regressam a casa depois das aulas, à sexta-feira à noite, impedindo que a competição se desenrole no fim de semana. Depois, o ciclo universitário é de 3 anos (ciclo de Bolonha) ou de 4 anos (ciclo sem Bolonha) e, portanto, este escalão deveria ser de Sub-21 ou de Sub-22, o que faria corresponder ao mesmo escalão etário do campeonato universitário americano.
A possibilidade de o adaptar ou simplesmente eliminar é deveras urgente porque este escalão, no atual figurino, não é um escalão que contenha qualquer utilidade para o basquetebol Português. Seria uma opção o estudar a integração direta destes jogadores nas equipas seniores acabando desta forma com o escalão, permitindo aos jogadores o confronto num escalão mais forte e mais exigente como devem ser a CNB1 e CNB2.
Escalões de formação: Dizem os peritos que não é possível nenhum jovem ser jogador de basquetebol se não treinar, no mínimo, 10 horas semanais ao longo do ano. Pergunto, quantos jogadores o fazem? Que eu saiba poucos, muito poucos. De quem é a responsabilidade? Clubes ? Treinadores? Não aceito a desculpa de que não há pavilhão. Há outros locais de treino, nomeadamente a rua, a pista, o ginásio, um salão. Qualquer local serve se pretendermos que os nossos jogadores estejam bem preparados. Estar bem preparado é ter atletas formados do ponto de vista físico (correr e saltar é o mínimo, em vez de ver jogos em que o ritmo de jogo quase faz adormecer), técnico (aplicação da técnica individual ofensiva e defensiva), tático (no mínimo o conhecimento do jogo) e mental (capacidade de superação, espírito de grupo, solidariedade, espirito de sacrifício), e, assim, diversos locais de treino são uma riqueza e não um problema. Entendo, portanto, que o problema não está nos jogadores, mas sim nalguns treinadores que não fazem com que os seus jogadores treinem as 10 horas semanais mínimas e que arranjam desculpas para o não fazer.
Uma palavra para o minibasquete, um escalão que faz com que o jovem passe a gostar de modalidade e de competir. Não é isso que os jovens fazem nos jogos de computadores ? nem é de desafios que os jovens gostam ? Em Espanha joga-se minibasquete, aqui faz-se OTL. A pensar! A rever! Que resultados deu até agora a estratégia usada no minibasquete?
Por fim, era preciso fazer um inquérito aos jovens portugueses para perceber o porquê de não jogarem basquete, de trocarem esta modalidade por qualquer outra. Este inquérito deve ser feito a nível nacional por uma universidade ou por uma outra instituição e por certo dará informação por forma a melhorar a atração e o recrutamento de jovens portugueses para a modalidade.
Pior do que uma estratégia errada é não ter uma estratégia definida, e nisto o basquetebol Português tem sido de uma riqueza esmagadora. Altera-se simplesmente pelo fato de alterar mas nada se modifica. Neste momento tão delicado para o basquete Português é necessário um entendimento entre FPB, AB e Clubes para que haja um investimento na formação mas não deixando de ter em conta que sem uma competição séria, de qualidade e visível não se pode promover a modalidade perante os diversos públicos.".