quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Gato por lebre ...


Não resisto à tentação de transcrever um artigo do Prof. Sidónio Serpa do Jornal A Bola (dia 3.1.2007)

Gato por lebre

o Estado reconheceu, oficialmente, a necessidade de apoiar a reinserção social dos atletas de alta competição no pós-carreira, legislando a existência de um seguro que lhes permitiria receber um prémio monetário ao fim de doze anos com estatuto de alta competição. É que a dedicação ao desporto que lhes permitiu atingir níveis de excelência internacional, nuns casos impediu a construção de uma aprendizagem profissional paralela e, noutros, atrasou de tal modo a entrada numa profissão para a qual se prepararam academicamente, que ficam colocados numa posição de inferioridade no momento de abandonar o desporto. Entretanto, por terem atingido níveis de rendimento fixados pelas Federações e pelo Estado, os praticantes iam recebendo subsídios mensais com os quais o País os ia empurrando para se manterem neste nível de actividade desportiva. Assim, entre aqueles atletas que agora completam os tais doze anos no sistema de alta competição, estão alguns que ficaram em níveis muito baixos de formação escolar, que não aprenderam qualquer ofício, ou que tendo estudado e conseguido graus universitários, ao demorarem mais tempo do que o estudante tipo em full time, se prejudicaram pelo atraso da entrada no mundo do trabalho, comparativamente com os seus colegas não desportistas.
Foi o preço, que o País lhes deve, por dedicarem toda a sua vida ao treino e à competição. O prémio de reinserção social parece, portanto, perfeitamente justificado e justo para quem promoveu o País e serviu de modelo de excelência ao longo de anos.
Pois bem, como aparentemente a lei não foi regulamentada, agora, no momento em que há vários atletas em condições de receber aquela compensação e o solicitaram, surgem as dúvidas e complicações habituais em Portugal. Isto é, a confirmarem-se estas dificuldades, o Estado estaria a vender gato por lebre ao bom estilo portuga.
Muitos atletas até gostariam de ver o dinheiro substituído por uma oportunidade de emprego que evite, por exemplo, o triste caso daquela que tendo completado o ensino secundário e representado dignamente Portugal em vários Jogos Olímpicos, tem de
trabalhar como empregada doméstica para sobreviver.
Se o Estado não é fiável, como pode o I sistema desportivo empurrar jovens para a perigosamente instável alta competição? E deverão os pais permiti-lo?

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