Recebo regularmente emails do treinador espanhol Jota Cuspinera, e não resisto a traduzir e publicar o que recebi hoje:
“ Hola Mario,
Um dos meus mentores sempre me dizia que, para poder
resolver um problema, primeiro é preciso fazer um bom diagnóstico. Se o
diagnóstico não for adequado, as soluções que você propuser estarão (salvo
casos de sorte) condenadas ao fracasso.
Ele sempre me dava o exemplo dos médicos. Imagine que você
vai ao médico com uma dor de cabeça; essa dor pode ser causada por uma
infinidade de razões. O médico fará perguntas e, se necessário, solicitará
alguns exames. O objetivo é fazer um bom diagnóstico para poder resolver o
problema com as medidas adequadas. Pode ser que uma simples aspirina resolva,
mas, se for algo mais grave, uma aspirina não resolverá o problema; daí a
importância de um diagnóstico adequado.
Há alguns anos, assisti a um clínic em Valência, onde o
palestrante era um treinador do Centro Siglo XXI de Barcelona (não me lembro do
nome). Nesse clínicc, ele propôs às jogadoras fazer o contra-ataque 11 com uma
bola imaginária. O que ele procurava? Diagnosticar se a tomada de decisões era
correta nesse contra-ataque, eliminando a bola como elemento
"distorcedor" na percepção que temos sobre a tomada de decisões. Ou
seja, às vezes a bola é perdida, não porque a decisão foi errada, mas porque a
habilidade para realizar o passe não é adequada. Ao eliminar a bola e jogar com
uma imaginária, a bola chega sempre ao destino proposto.
Achei isso super interessante e guardei a ideia.
Algum tempo depois, fui dar um Clínic num centro de treino individual em Oviedo. Cheguei
um dia antes e fui ao centro para ver os treinos. Lá, encontrei um treinador
que treinava três meninas na categoria infantil, uma delas era muito
alta para a idade. O treinador fazia um exercício de finalizações com
bandejas, e a menina mais alta parecia ter sérios problemas de coordenação ao
realizar as bandejas. Então, ele aproximou-se de mim e pediu a minha opinião
sobre como trabalhar a coordenação corporal dela. Lembrei-me de que realizar um
bom diagnóstico era importante para propor uma solução eficaz, então ignorei o que os meus olhos viam (falta de coordenação motora) e pedi que ela realizasse a
mesma penetração com uma bola imaginária... e voilà! A coordenação era
perfeita; ela não tinha problemas de coordenação motora corporal, o que
indicava que a sua "relação com a bola" era o verdadeiro problema.
Portanto, a solução era realizar exercícios que ajudassem a melhorar essa
"relação com a bola".
Veja como o diagnóstico foi importante (obviamente, não
fiquei tempo suficiente para ver como a jogadora evoluiu). Se tivéssemos ficado
com a impressão inicial, teríamos colocado a jogadora para fazer exercícios de
coordenação corporal, provavelmente sem bola, o que não teria resolvido o
problema.
Bem, na última semana, estive dirigindo o Campus Pro Camp em
Albacete, organizado pela Federação de Castilla-La Mancha. Lá, enquanto tentava
ajudar um jogador a superar seu oponente em um 1x1 (ele nunca iniciava um
drible de progressão e limitava-se a tentar avançar enquanto protegia a bola
com o corpo, com pouco sucesso), lembrei-me de que, para ajudá-lo, primeiro
tinha que diagnosticar por que não conseguia ele fazer isso. As causas poderiam
ser várias e, após várias "orientações verbais", não estávamos a progredir
naquilo que buscávamos. Qual foi a solução? Pedi que jogasse um 1x1 para superar o seu oponente com
uma bola imaginária. Ele conseguiu superar, mas com grande dificuldade.
Percebi, então, que, além de um possível problema de controle de drible, havia
uma diferença física insuperável para ele naquele momento; a dificuldade da
tarefa era, naquele momento, grande demais para ele. Então, a solução foi
emparelhá-lo com oponentes com uma capacidade atlética um pouco menor do que a
de seu defensor naquele momento (se isso não fosse possível, eu teria ajustado
a defesa de alguma maneira, ou o jovem acabaria frustrado por não conseguir o que
propus).
A partir daí, incentivá-lo a ser corajoso e atacar (adicione
aqui os conselhos que quiser) se tornou algo viável e alcançável, com suas
dificuldades, mas alcançável, afinal. De fato, simplifiquei o desafio; o
primeiro objetivo era simplesmente alcançar a área a partir da linha de 3
pontos jogando esse 1x1. O objetivo era simplificar a sua problemática com
objetivos mais acessíveis para ele (lembre-se de que o diagnóstico me fez mudar
o par na defesa), com a intenção de, eventualmente, alcançar o objetivo final
de superar totalmente o seu defensor, o que levaria mais tempo do que o dia que
pude compartilhar com ele.
Assim, encorajo os treinadores a diagnosticarem bem o problema quando perceber que alguém está
com dificuldades e, então, propor a solução que acredita resolver o problema.
Às vezes, pedir para jogarem com uma bola imaginária pode ajudá-lo a
diagnosticar com mais precisão o verdadeiro problema subjacente ao que você
está a observar.”
J.Cuspinera
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