segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Promover o basquetebol


O Basquetebol perdeu muito espaço nos últimos anos na Comunicação social e hoje tirando notícias  da NBA , com interesse limitado , raros são os artigos publicados. Fui convidado para colaborar  no site Bola na Rede  , e obviamente aceitei para dar mais visibilidade à modalidade. 


 PERDEM TODOS

 A equipa basquetebol feminina de Arroyo Valley (high school ) foi notícia esta semana, nos Estados Unidos, por ter derrotado Bloomington High por 161-2. Naturalmente que o seu desportivismo está a ser fortemente questionado. ”Não tenham pena da minha equipa. Eles é que deviam sentir pena da sua própria equipa, que não está a aprender o jogo da maneira correcta”, disse o técnico de Bloomington, Dale Chung. ” Pressionaram sempre em todo o campo e ao intervalo já ganhavam por 104-1 “.
Em contraponto o treinador Michael Anderson de Arroyo Valley disse: “Não tinha a intenção de melindrar ninguém ou ganhar por uma margem tão significativa. Só não contava é que elas fossem tão fracas e que as minhas suplentes conseguissem marcar tantos pontos, uma delas marcou 8 triplos , em 9 lançamentos. A prova de que não estava de má fé está no facto de nem ter dito o resultado aos jornais locais”.
Contudo, fotografias do marcador com o resultado apareceram no Facebook da equipa e a história deu rapidamente a volta ao Mundo. Como se poderia esperar , essa pontuação levantou algumas questões ao redor da comunidade de basquetebol da região e criou alguma revolta contra o treinador Michael Anderson (Arroyo Valley). ”Tive uma conversa com o meu treinador sobre o jogo e tal resultado não volta a acontecer”, disse o diretor Desportivo de Arroyo Valley, Matt Howell. Anderson defende-se: “Cheguei mesmo a falar com os árbitros a meio do terceiro período pedindo-lhes que dessem ordem à mesa para não parar o cronómetro , mas, de acordo com as regras do “high school” , tal só é permitido no último período”. Nada disto é novo. Recentemente, em Dallas , uma outra equipa escolar ganhou por 100-0.
São também conhecidas algumas histórias de treinadores que abandonam o jogo quando a diferença pontual é muito significativa. Na semana seguinte, a Direcção de Arroyo Valley suspendeu o treinador por dois jogos. A situação fica ainda mais complicada quando nestes jogos estão envolvidas jogadoras de grande qualidade, o que leva a pontuações individuais anedóticas: Cheryl Miller marcou 105 pontos em 1981, quando Poly (Riverside, Calif.) ganhou a Notre Vista (Riverside) por 179-15. Lisa Leslie em 1990 jogando por Morningside (Inglewood, Calif.) conseguiu 101 pontos só numa parte de jogo (o treinador de South Torrance retirou a sua equipa ao intervalo). Mais recentemente ,em 2006, Epiphanny Prince marcou 113 pontos por Murry Bergtraum (New York) numa vitória por 137-32 contra Brandeis (New York).

Estes resultados levantam algumas questões aos treinadores: Quando é que a competição deve dar lugar à compaixão? Quando é que um jogo está ganho? Deve um treinador impedir a sua equipa de marcar mais pontos? O debate não é novo e em alguns estados norte americanos a “National Federation of High School Athletic Associations” recomenda mesmo que os jogos femininos com
grandes diferenças pontuais (quando o desnível chega a 30/35 pontos ) passem a ser jogados a tempo corrido, independentemente do período de jogo (aplicam a ”mercy rule”).

Quem tem dúvidas desta regra é o mítico treinador de Connecticut e da Selecção Norte americana Geno Auriemma, que afirmou não ter a certeza de “conseguir o equilíbrio entre o desportivismo e o espírito competitivo. Quando temos uma grande vantagem como vou dizer aos jogadores: não tentem marcar? Eu nunca tinha ouvido falar de resultados de 100-0. Não faço a mínima ideia do que teria feito nessa situação”.




São muitas as questões que ocorrem aos treinadores sobre a verdadeira formação que recebem os jovens atletas durante a competição . Encontrar um modelo que garanta a formação integral dos jovens não é fácil. A formação do jogador de basquetebol deve passar por etapas onde estão necessariamente os treinos e os jogos . As experiências adquiridas nos jogos não
podem contudo ser substituídas por treinos. Para que a competição seja um meio formativo é necessário que a mesma se adapte às
necessidades, capacidades , prioridades e preferências dos jovens praticantes. O regulamento das provas é um elemento-chave para  o concretizar de tal objectivo já que, muitas vezes, impede mesmo que a competição seja um meio formativo.

No basquetebol português o tema é recorrente . Uma análise sumária aos resultados do Campeonato Sub 14 Feminino da
A. B. Lisboa dá bem a ideia de que o assunto está longe de ser resolvido , apesar das várias tentativas já encetadas para evitar tais discrepâncias:


204- Basket Queluz – ESA- 1
173- Quinta Lombos- ESA- 0
167- Basket Queluz- Sporting – 7
157- Alberta Menéres – ESA-10
133-Quinta Lombos- Estoril Basket- 17
124-Quinta Lombos – Sporting- 3
117 -Q. Lombos “B”- Carnide ” B”- 8
116- Benfica- F. T. Vedras- 14
114- Benfica- SIMECQ-16
113-Alberta Menéres- Sporting -2
112-Benfica – Paço Arcos -18
109- Algés – ESA- 11
107-Estoril Basket – ESA- 14





1 comentário:

nantunes disse...

Caro Coach Mário Silva,

Apreciei o seu post. Este é assunto recorrente e que a meu ver começa, nos formadores e não pode deixar de envolver os pais que acompanham os atletas.
Gostava que dissertasse sobre como promover o basquete em cidades médias, pondo mais miúdos as jogar desde os 5/6 anos de idade?
Que pressupostos básicos e de estrutura são necessários para assegurar no longo prazo uma modalidade fantástica mas parente pobre?

Começo a lembrar a inexistência de playgrounds!
Obrigado e bem haja.
Nuno